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quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Liberdade ainda que tardia

Hoje fiz uma coisa que n?o fazia há tempos, fui ao cinema sozinha, sem sequer saber o que estava em cartaz.Foi mais ou menos igual a pedir um lanche em um fast-food,sem saber o que virá para voc? degustar.
Foi assim:
-Por favor,meia entrada para o cine 3.
E lá fui eu,comprei minha pipoca,estabanada como sempre foi tudo caindo pelo caminho, esqueço de tirar a carteirinha de estudante, tenho que parar na porta pra tira-lá da bolsa,a fila atrás de mim se forma e o filme quase começando,já que estava meio atrasadinha como de costume, mas enfim sentei e fui dominada pelo filme ele me sugou pra dentro dele, me questionava o tempo todo se aquilo seria possível algum dia ... e senti uma liberdade incondicional, via que fiquei livre de todas as minhas ansias e aquela angustia de antigamente já n?o me dominava mais...fiquei imaginando mil coisas depois... Quem eu gostaria de deletar da minha vida? Que lembranças eu gostaria de esquecer?
Confesso que acho triste a idéia de se decepcionar tanto com uma pessoa a ponto de querer retirá-la da sua mente; acredito que todas as lembranças s?o válidas, mesmo as ruins, elas nos deixam atentos para n?o repetir... mas isso nem sempre funciona.
Se tiverem que sumir... as que tiverem... simplesmete ir?o sozinhas...
Liberdade ainda que tardia...


Vou transformar esse texto numa espécie de "confessional", vou acabar me humilhando no processo, mas vai valer a pena, porque, sinceramente, "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" é um clássico instantâneo e o melhor filme que Jim Carrey vai fazer em sua exist?ncia, isso se ele n?o colaborar novamente com o g?nio que é o franc?s Michel Gondry, ou seja, o filme merece. E eu me sinto encorajada a fazer o que estou prestes a fazer, porque nunca em toda minha vida (e dentre todos muitos filmes que eu já vi) eu assisti a um filme que se incomodasse tanto a sair de seu caminho para entender, aceitar e consolar o espectador. "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" balança sua cabeça assertivamente para o espectador tantas vezes que fica com o pescoço doído.

Bem,levei minha cota de pés-na-bunda o bastante e, com medo de me tornar uma pessoa amarga, resolvi que o incômodo da separaç?o só adicionaria mais peso ao meu fardo. Eu tenho baixíssima tolerância ao término de uma relaç?o, viro uma pessoa insuportável, n?o consigo fazer nada direito por um temp?o, me torno a própria personificaç?o do fracasso. N?o gosto de mim depois que acabo uma relaç?o e, depois que acabei me deprimindo quando me identifiquei com a letra de um pagode rasteiro, resolvi que era hora de parar com a palhaçada. Mais: honestamente, desde que eu liguei o "foda-se" para isso, minha vida tem se encaminhado sozinha. Claro, os amigos todos falam que eu devia parar com isso (tolos...), mas "Brilho eterno..." só atesta o que eu já sei e gostaria que todos entendessem: qualquer relacionamento em geral, como diz o título do álbum do This Mortal Coil, "Vai terminar em lágrimas". A diferença é se voc? está disposto a aceitar isso ou n?o.
O filme começa quando Joel Barish (Jim Carrey) acorda com um humor diferente e, ao invés de ir para o trabalho, resolve tirar o dia para dedicar-se a autocomiseraç?o numa praia (num dia glacial). Lá, ele acaba cruzando com a exc?ntrica Clementine (Kate Winslet) e, apesar da timidez de Joel tentar boicotar qualquer tentativa de conversa, eles acabam se envolvendo num encontro que torna-se mágico sem sair da esfera da realidade. O filme corta para o final do relacionamento, que acaba numa nota t?o amarga que Clementine procura o consultório da Lacuna (com cara de clandestino), para apagar Joel da memória e, assim, começar do zero. Acidentalmente, Joel descobre e, com os sentimentos feridos, resolve apagá-la da memória, praticamente por despeito.

É difícil falar de "Brilho eterno..." sem acabar revelando um ou outro segredo da história, mas o filme, de qualquer jeito, se desenrola feito um quebra-cabeça chin?s, ent?o eu tenho que pedir que voc? agüente firme caso a primeira meia hora pareça indecifrável. A narrativa fragmenta-se e entrecorta-se, recriando no próprio espectador a sensaç?o de confus?o do personagem principal, até porque a história acompanha n?o só Joel e Clementine, mas também o modus operandi da Lacuna (www.lacunainc.com) e a equipe responsável pelo apagamento: o doutor Howard (Tom Wilkinson), seu assistente convencido (Mark Ruffalo) e a secretária biruta (Kirsten Dunst) com quem namora e o "estagiário" Patrick (Elijah Wood). Confie no fato que os criadores do filme, Gondry e o roteirista Charlie Kaufman, v?o juntar as peças, v?o fazer voc? acreditar que descobriu como o filme vai terminar, mas, sendo um pouco mais espertos e menos óbvios do que isso, na realidade, tem é um monte de truques escondidos e est?o doidos para revelá-los. Melhor do que isso: a montagem do tal quebra-cabeça só pode ser realizada se quem assiste estiver disposto a assumir que o que está sendo mostrado tem um equivalente direto na história de vida do próprio espectador. Ent?o n?o seja babaca e se entregue ao diabo do filme!

O problema das comédias românticas, que eu acho um tipo de filme ofensivo, é que nunca s?o sobre duas pessoas que se apaixonam. Na maioria das vezes, um tem que ser super-rico (ou super-qualquer-coisa), o outro super-pobre (ou super-qualquer-coisa), mas ambos com um humor aguçado e tiradinhas rápidas. Tudo bem que "Brilho eterno..." desafia rótulos, mas os protagonistas s?o pessoas normais. Dolorosamente normais. Eu conheço vários Joels e Clementines, quando n?o acabo assumindo o papel dos próprios.


Brilho eterno..." acaba sendo um comp?ndio de psicologia, pois vários conceitos, psicológicos, cognitivos etc. acabam traduzindo-se com perfeiç?o na tela e, o que é mais impactante, sem ser exibicionismo do diretor, integrados perfeitamente a história. Ajuda o fato que este é o roteiro mais sentimental de Kaufman. Ainda abusado, mas menos "espertinho", ele n?o tem medo de escrever com o coraç?o e, pela metade do filme, quando o roteiro nos leva pelas memórias de infância de Joel, o compromisso que o escritor assume com a platéia é explícito; difícil n?o ficar com um nó na garganta.
Brilho eterno..." é um triunfo de direç?o e de estilo. Vai da direç?o de arte, passa pela fotografia (que estiliza um refletor acoplado a câmera!), pela trilha sonora (a cover de "Everybody's gotta learn sometimes" do Corgis, cantada pelo Beck, é uma facada no coraç?o), um amálgama de escolhas ousadas, porém conscientes. Com o maior respeito ao que está querendo ser transmitido. A sensaç?o passada por "Brilho eterno..." é a de alguém que, para consolá-lo, simplesmente colocou a cabeça sobre seu ombro, sem ter que dizer nada. N?o é aquele filme que te faz se acabar de chorar dentro do cinema; ele te acompanha até em casa, dorme contigo e ainda te leva café na cama a semana inteira. Um filme tanto para se admirar quanto se apaixonar. Assista ou sua vida terá sido uma experi?ncia incompleta.POuco Exagerada?.. Mas assitam...

"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".
( Friedrich Nietzsche)."



Esse é o poema que dá nome ao filme...
Em ingl?s:Eternal sunshine of the spotless mind.

Eloisa to Abelard ( 1717 )
Alexander Pope

( ... ) " How happy is the blameless vestal's lot !
The world forgetting, by the world forgot.
eternal sunshine of the spotless mind ! "( ... )

( ... )"Feliz é o destino da inocente vestal
Esquecida pelo mundo que ela esqueceu
Brilho eterno da mente sem lembrança!" ( ... )


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